Outro dia no parque.

Gustavo Alves
4 min readApr 20, 2021

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Acordei e parece que olhei no espelho muito cedo, quando a mente ainda não tá preparada pro choque, “credo” eu pensei, “que nojo”, bem, eu já havia começado o dia mal e nada realmente aconteceu.

Depois disso fui informado de que eu precisava ir ao médico, fazer exames pra saber o quão infeccioso eu estou pra que a minha mãe possa voltar a trabalhar, me deixou bem puto. “Porque?” eu me perguntei, só pra chegar a conclusão de que “Porque sim”, porque o controle não é meu.

Fui ao médico, refleti sobre o porque.

“Talvez eu tenha acordado de mal humor porque me vi no espelho muito rápido, nah, talvez foi a noticia, talvez você só seja meio bosta gut, de onde você tirou que é justo com alguém acordar de mal humor? Você é lixo, sinceramente, o melhor jeito de resolver é…”

Nesse ponto você já sabe pra onde esses pensamentos vão, continuei a refletir sobre e alguém veio a minha mente novamente, porque porque porque, não tive resposta, mas cheguei a conclusão de que o amor é toxico, pelo menos o amor na nossa cultura, sabe? Eu me perco as vezes nessas coisas, admito, meio patético, eh?

Enfim, eu juro que eu só tô tentando buscar significado, na vida eu quero dizer, “…o melhor jeito de resolver...”, sinceramente, eu acho que perdi uma batalha que luto a muito tempo hoje, não existe algo pra resolver, né?

Acho que seria um bom exercício começar a enxergar o mundo dessa maneira, começar a considerar que não há um problema. Essa foi a conclusão que eu cheguei durante a minha reflexão.

Hoje, o relógio bate muito perto da meia noite, muito perto mesmo, eu me sinto destruído, cada palavra que eu escrevo me dói mais escrevê-las porque nelas existem a voz de alguém que escolheu ficar calado muitas vezes pra proteger o coração de alguém, e hoje, o alguém que eu falo é a minha mãe, eu me questiono muitas vezes sobre como algumas das nossas discussões acontecem, já passei dias tentando desconstruir algumas conversas pra entender onde exatamente eu errei pra que ela começasse a chorar, me chamar de cínico, frio, sem sentimentos, vagabundo, “igual ao seu pai”, bem hoje marca o dia que eu desisti.

Não tem porque, saca? Pessoalmente, eu odeio essas discussões, elas só machucam, admito, já comecei algumas, ninguém é perfeito, mas por muitos anos essas discussões foram semanais, ela fazia questão de ter essas conversas.

Quando eu entrei na faculdade, pelo menos uma vez na semana, ela sentava comigo com a desculpa de que queria ter uma conversa e ela sempre circulava por três pontos; um emprego que eu não tinha(no primeiro semestre de faculdade), as notas e o quão sortudo eu era por ter tido aquela oportunidade. Pressão? Tem bastante droga que ajuda. Bem, meu primeiro semestre foi okay, acho que não consigo chamar atenção pra nada muito positivo ou negativo, mas no final dele eu já não queria mais estar na puc, era muito claro, eu era muito novo, ainda amo o tema, mas não dava, minha cabeça e minhas intenções não estavam no lugar certo, era hora de parar, e foi isso que eu fiz, eu fui até a minha mãe, falei tudo que tinha acontecido e como eu estava me sentindo e daí ela me fez ficar lá por mais 1 ano, isso tudo enquanto mentia sobre as minhas notas pra patroa dela, no final, a patroa dela me odeia agora e ela gosta de me lembrar da oportunidade perdida. Eu sou o pior.

Se for pra ficar tudo bem, vai ficar tudo bem, eu acho, falei pra ela hoje que eu ia deixar de tentar, mal sabe ela que eu menti, vou continuar engolindo choro do jeito que ela me ensinou, vou continuar a me isolar do jeito que ela quer, a única coisa que eu percebi em todos esses anos sobre a maneira que ela responde ao meu comportamento é que ela parece mais feliz quando eu falo menos, faz sentido, acho que ela não gosta muito de me ver falar sobre as coisas que eu gosto, eu tentei por um tempo falar mesmo quando ela não estava prestando atenção, mas daí dói ainda mais né, dói pra caralho na real, eu esperava que minha mãe iria gostar de ouvir que eu tenho alguma paixão, eu gosto de ouvir alguém falando sobre suas respectivas paixões, talvez ela só não entenda muito bem os assuntos, gente de outro tempo, mas daí ainda dói, eu tentei mostrar os meus desenhos, mas isso é coisa de criança né, não tem porque esperar que ela se interesse, me sinto vazio escrevendo isso tudo, talvez eu realmente seja frio e cínico do jeito que ela fala, eu me sinto bastante assim falando com ela, meio foda, me faz me questionar, difícil pensar que o próximo dia pode ser melhor quando todo dia você é lembrado do quão ruim você é.

Eu sou a pior pessoa que eu conheço.

Não consigo pontuar a primeira vez que eu disse isso, eu repito isso bastante pra mim mesmo, pra lembrar de manter o pé no chão e ser uma boa pessoa sempre. Acho que eu tenho que parar, mas sinto que não consigo.

Eu sou a pior pessoa que eu conheço.

Soa tão real quando você vê por fora, eu me sinto toxico, radioativo, destrutivo, talvez seja porque eu sou.

Mas hoje, como eu disse, eu perdi uma batalha, hoje eu sou a pior pessoa do mundo, ou a melhor, eu não ligo, porque mesmo que eu seja a pior pessoa do mundo, talvez esteja tudo bem.

voltando ao relógio, quase meia noite o relógio bateu que uma amiga veio a mente, eu não gosto do sentimento de lembrar da falta, quase chorei no ônibus, ainda bem que deixei pra chorar em casa, mas é, lembrei dela.

Eu não deveria me matar, mas porra, eu quero encontrar pelo menos um motivo pra me manter andando nessa caralha.

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